fevereiro 22, 2012

Posse


Ocupo todos os cantos da cama para deixá-los fora do meu mundo. É o meu modo de esconder que na verdade eu só queria perder o cobertor para pés maiores que os meus. Dormir sozinha dá aquela sensação de que o frio existe mesmo quando o termômetro marca 30 graus, de que os travesseiros são insuficientes e o espaço é infinito. Por dentro e por fora.

Ocupo todos os segundos do meu dia pra não deixá-los tomarem posse da solidão que cultivo como companheira. Sou dela, não tem jeito. Sou minha e não sei me dividir. Essa é só a maneira que eu aprendi a ser, porque pertencer aos outros faz doer.

Já aceitei vocês e suas cargas, suas faltas; e nada disso foi suficiente porque vocês não puderam ou não souberam me aceitar. Vocês não podem carregar o que tem aqui dentro, esse peso que eu preciso dividir pra não ficar sobrecarregada por existir. Agora não aceito mais. Não consigo aceitar nada pela metade e vocês são incompletos porque não se permitem ir além.

Não posso aceitar e dormir sozinha é quase um protesto. Não aceito. Não deixo mais ninguém me roubar de mim.