novembro 18, 2009

Tu seras la historia de mi vida


Todo drama é bem vindo: incorpore um nome duplo, assuma a lágrima recorrente nos cantos dos olhos, mantenha a testa enrugada e o choro preso na garganta. Fale o que está engasgado, de preferência para toda a vizinhança, na porta de casa e aos gritos. Mas se resolver guardar sentimentos, fale sozinha: conte para o espelho todas as suas aflições de vida sofrida. Desconfie sempre do seu amante, que é também amante de outra, que tem ainda uma família para criar e não assume a tão bela felicidade de vocês. Ele prometeu, sim, mas no fundo você sabe que esse romance não dará em nada e só restará aquele amigo feinho e gago que faz tudo por você.
Amores platônicos, incertezas, angústias, vontades de parar de andar enquanto estou atravessando a rua, medos de me jogar sem querer do viaduto... Muito mexicana essa minha vida, muita intensidade, muito momento, sobra pouco pra amanhã. O que vem depois só me interessa depois.
Tu seras la historia de mi vida, hoje, agora. Eu te amo pra sempre até o dia escurecer. Te quero inteiro pela metade e sou eternamente sua em nossas curtas horas. Complete-me assim, sem dizer que sim. Se você se apaixonar, vou ter que sumir. Se disser que me quer, acaba o desafio. Assuma a bagunça que eu sou sem tentar me arrumar, não serei sua, não serei séria, não estarei sóbria. Se eu disser que te amo, pode ter certeza que é mentira. Mal consigo me amar, quanto mais amar alguém que não é o que eu espero.
Muito mexicana. Preciso de salsa, samba fossa já não me preenche mais.

novembro 07, 2009

Antes que você se vá



Se sua partida é mesmo inevitável, se seu sonho é mesmo indispensável, se sua vida é mesmo impenetrável, vá logo de uma vez. Não permita que eu me apegue e faça planos, não me deixe crer no que não há verdade. Vá antes de borrar minha maquiagem, ferir minha coragem, antes que eu jogue meus instintos de sobrevivência definitivamente pela janela do prédio como se não me importassem mais sentimentos próprios. Não provoque meus medos, não confunda meu discernimento e não destrua meu equilíbrio. Apenas vá. Leve tudo o que é seu para que a lembrança não perfure meu sorriso cheio de lágrimas. Não me deixe criar um relacionamento individual onde eu sou todos os personagens e nenhum enquanto você é a plateia, única, que faz questão de não aplaudir minhas fragilidades teatrais. Você que preenche minhas lacunas de medo e cinco minutos de vida, deve ter um longo caminho de volta pro seu ser, enquanto eu sobrevivo de te esquecer daqui a pouco. Se minhas palavras embaralhadas confundem sua mente, nem peço lucidez. Já sei o quanto você gosta de estar entorpecido pra esquecer seus problemas ao invés de resolvê-los. Mas não ignore o que eu sou por não ter forças em me decifrar, não fuja antes de saber o que eu posso fazer pra te dar uma vida. Seu medo é de ser feliz? Então dividimos esse pavor doentio da alegria, podemos partilhar o pânico de sorrir até que a tristeza não faça mais sentido a dois.

Se sua partida é mesmo inevitável, se seu sonho é mesmo indispensável, se sua vida é mesmo impenetrável, ao menos arrisque me carregar junto de você.