junho 27, 2009

Reflexo

Eu tenho sono e já não posso mais dormir. Eu tenho ânsia, não consigo mais comer. Eu tenho medo e já não quero mais.
Meus pés perderam a função básica de equilibrar meu corpo na minha existência. Não diria que a culpa é física porque fui em quem sobrecarreguei minha mente e me tornei incapaz de responder sobriamente por um "tudo bem?". Isso pesa. É pesado saber que não está nada bem.
Eu percebo no espelho que meu sorriso não chega aos olhos. Eu posso enganar a todos, posso até me enganar. Mas é de noite que eu me revelo como sou: sozinha.

junho 19, 2009

Sobre você ir embora de vez

Vai até a esquina, mas não solta da minha mão. Foge de mim, mas me busca nesse seu abraço tão maior que eu.

Pode cortar meus assuntos, pode ficar vazio de repente. Eu sei que a culpa é só minha. Provoca minhas inseguranças, de tanto que eu já provoquei as suas. Pega meu ponto mais fraco e torce até sair minha última gota de orgulho. Esfrega bem na minha cara o que eu perdi e que logo vai ser de qualquer uma e que eu nunca mais vou ter. O que eu não sei ter.

Mostra que eu mereço ficar com um vácuo bem grande dentro de mim por não saber cuidar de uma coisa tão simples e tão pronta. Você nunca pediu mais do que eu podia dar e eu sempre quis mais, quis menos, sempre quis diferente. Você nunca exigiu nada de mim, só queria minha existência e eu não soube nem existir pra você.

Tem razão, você não tem que responder direito. Afinal, não fui eu quem acabei com toda e qualquer possibilidade de ter você longe da esquina e perto do meu coração? Tá certo, se protege da louca que só quer brincar com sentimentos enquanto não cresce, não tem seus próprios sentimentos.

Tá vendo esse coração podre aqui? Cabe muita solidão, mas o espaço de amor tá esperando um pouquinho pra amadurecer. Ele tem medo de acabar gostando da sensação e descobrir pra que serve de verdade.

Testa todo seu vocabulário monossilábico comigo. Testa meu limite pessoal, minha paciência, minhas paranóias... Eu ainda não posso ser o que você quer de mim. Eu posso ser essa metade que não encaixa, mas sabe falar por horas e completar frases bobinhas.

Você pode esquecer que por um tempo eu fui mais que todas as outras. Só não me deixe morrer em você, porque em mim você vai continuar vivendo. Com seu abraço maior que eu, com suas falas que sempre me deixaram sem ação, gostando mais de mim do que eu sei gostar de alguém. Sendo alguém além do que eu sei ter.

Acaba o texto pra mim. Sua inspiração vem e volta e a minha simplesmente não existe. Não me deixe morrer no papel. Não se afogue na tentativa de me deixar pra trás e não confunda me superar com me apagar. Não me apague nem me mate um pouquinho. Esquece o durante e o depois e refaz esse antes que eu gosto tanto. Eu só quero isso.

Me conquista todo dia, mas não queira me levar no final. Só volte pra folha em branco e caminhe com mais calma.

junho 13, 2009

A íris é o diafragma do olho.


Ele olha, ela devolve o olhar. Ambos sabem a improbabilidade dessa troca de olhares levá-los a algum lugar.
Ele está pensando no significado daquele sorriso tímido, disfarçado entre mechas de cabelo castanho que insistem em esconder o rosto que prendeu sua atenção entre tantos outros.
Ela está pensando em como é boba, e em quantas cantadas já depositou sonhos de amor eterno. Se ao menos fosse real...
Os dois temem a desislusão.
Ele fraqueja em sua confiança e deseja, pela primeira vez, uma só pessoa no mundo. Mas por que ela sequer falaria com ele?
Se ao menos fosse real...
Sem nomes, sem histórias anteriores. Personagens comuns e paixões à primeira vista. O que realmente tem um final feliz fora do papel? A palavra final já tem uma conotação de tristeza nas histórias de amor.
Ela levanta um pouco constrangida, envergonhada da própria existência e caminha em direção ao banheiro. É uma fuga tingida de tédio. Torcendo tanto para o garoto da outra mesa segui-la, torcendo tanto para ser invisível, querendo tanto querer algo possível.
Ele participa de um último comentário com os amigos que zombam uns dos outros e segue a garota com os olhos. Deve levantar ou não? Será que vai parecer um idiota? (todos parecem idiotas em situações românticas). Levanta.

Oi (não me deixe aqui sozinho, não me faça fingir que achei que era uma conhecida, não me faça fugir de você)

Olá (ai meu deus, o que eu faço? Não quero parecer atirada, mas e se você acabar achando que eu sou difícil demais pra insistir?)

Eu vi você lá e... (queria saber seu nome, seus medos, sua vida. Queria te proteger do frio e do mundo, esquecer de tudo com você...)

É, eu... (queria saber seu signo e suas dores, saber o que há além desse garoto comum com amigos bobos e olhos magnéticos, queria largar tudo...)

Você acharia muito estranho se eu dissesse que tudo parou?

Acharia.

Mas tudo parou.

Eu sei.

Então?

Então aqueles olhos, que já se liam durante toda uma noite, finalmente se entenderam. As palavras pareciam tão fracas e inexpressivas diante da comunicação mais profunda que existe, os enlaces faziam tanto sentido... E tudo parou.